Como a Fitoterapia utiliza as plantas

Fitoterapia e Plantas Medicinais

Já falamos no blog do HCX sobre a diferença entre a Fitoterapia e as plantas medicinais: para se tornar um produto fitoterápico ou medicamento fitoterápico, a planta medicinal passa por um processamento, é feito um extrato. Já a planta medicinal é assim chamada quando é usada, inteira ou em suas partes, in natura (ou fresca) ou seca, sem processamento.

O produto fitoterápico pode ser apresentado de várias formas – em extrato ou extrato seco padronizado, entre outros. Por exemplo, do açafrão, usa-se a raiz; dela é feito o pó que passa por um processo de extração utilizando-se de solventes alcóolicos ou glicólicos, dando origem ao extrato, que pode ser seco ou mole, dependendo do conteúdo de água residual. O extrato seco padronizado deve passar por um processo de extração, que utiliza solventes específicos, para concentrar o composto bioativo.

“Em um extrato, temos vários compostos bioativos – principalmente, flavonoides e polifenóis. O agente antioxidante, por exemplo, está nos flavonoides. Mas é preciso entender que a Fitoterapia não se trata de um desses ativos isolados”, afirma a Profa. Dra. Ana Flávia Marçal Pessoa, coordenadora do curso de Fitoterapia  do HCX Fmusp.

Neste curso, ela explica que não se ensina a prescrever: “Cada classe profissional tem um nível de licença para prescrição; a Nutrição, por exemplo, não pode prescrever o extrato padronizado, mas sim o pó ou droga vegetal, na forma de chás. Os médicos podem, mas é preciso fazer a especialização para ter o título específico, e tudo isso está especificado em legislação desde 2006”, explica Dra. Ana Flávia.

Fitoterapia Anvisa

A necessidade do uso de plantas em tratamentos médicos tornou-se mais transparente na década de 1970; já havia, então, sinalização disso junto à Anvisa. Entre as décadas de 1980 e 1990, o Sistema Único de Saúde já mostrava iniciativas de levar o uso de plantas medicinais para sua rotina.

Atualmente, o SUS lista 12 fitoterápicos em sua Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) – dentre eles, espinheira santa, guaco e isoflavona de soja, produtos que o médico da rede pública pode prescrever aos pacientes. O Sistema também visa disseminar o conhecimento sobre as plantas medicinais e como usá-las por meio de programas educacionais. “Em Fortaleza, há o ‘Farmácia Viva’, em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde, que ensina as pessoas a cultivar as plantas medicinais e fazer uso delas”, ressalta a professora.

“Hoje, sabemos que mais de 80% da população faz uso de plantas medicinais ou produtos fitoterápicos, comprados facilmente em farmácias e lojas de produtos naturais. Porém, há uso indevido, existem reações adversas, especialmente para o fígado, e sabemos que o uso desses produtos não deve ultrapassar 12 semanas. Precisamos acabar com a premissa de que o que é natural não faz mal”, adverte a professora. “Em nosso organismo, há um citocromo, o CYP 3A4, responsável por metabolizar drogas – também as fitoterápicas. Você pode ter reações adversas provocadas pela associação dos dois tipos de drogas, alopáticas e fitoterápicas”, completa.

A Anvisa conta com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), que explica procedimentos em caso de intoxicação com qualquer tipo de produto, inclusive com plantas ornamentais.

Por isso, é tão importante que os profissionais da Saúde conheçam seus mecanismos de ação e interação, especialmente para o uso complementar: “A Fitoterapia é medicina complementar e faz parte do Programa Nacional das Práticas Integrativas e Complementares”, ela reforça.

Homeopatia, Aromaterapia e Apiterapia

Há muita confusão entre as áreas; “enquanto a Fitoterapia faz uso exclusivo de plantas e produtos de origem vegetal, a Homeopatia usa, além das plantas, animas (abelha, cobra) e minerais (sal, magnésio). Já a Aromaterapia, também parte da medicina complementar, usa compostos extraídos dos produtos fitoterápicos, mas diferentes e extraídos de outra forma”, diz Dra. Ana Flávia.

“A Homeopatia, como especialidade odontológica, tem contribuído para uma abordagem diferenciada ao atendimento a pacientes, pois valoriza e hierarquiza os sintomas manifestados, individualiza e humaniza o atendimento. Através dele, seleciona um medicamento que tenha efetividade e resolutividade para o caso”, explica o Dr. Mario Sergio Giorgi.

Há, ainda a Apiterapia – o Prof. Mikhael Marques explica: “Apiterapia significa tratamento utilizando os produtos das abelhas. É uma prática milenar, que conta com cerca de 17 produtos, como mel, própolis, geleia real, pólen, cera de abelha e apitoxina. Vários estudos científicos elucidam as propriedades terapêuticas destes produtos, inclusive do exótico apilarnil (larva de zangão)1”.

São várias as propriedades do mel: em cuidados pediátricos, distúrbio gastrointestinal, saúde bucal, doença do refluxo gastroesofágico, dispepsia, gastrite e úlcera péptica, gastroenterite, constipação e diarreia. “É interessante observar que o mel possui propriedades antidiabéticas, e inclusive pode ajudar no tratamento do pé diabético1, assim como a geleia real”, completa o professor. A própolis é o produto da colmeia mais estudado, principalmente por suas propriedades antioxidantes, anticâncer, antibacterianas, antidiabéticas, antifúngicas e anti-inflamatórias2.

A Apiterapia e a Aromaterapia também são reconhecidas pelo governo brasileiro.

Referências

  • 1 Using Bee Products for the Prevention and Treatment of Oral Mucositis Induced by Cancer Treatment. Molecules. 2019 Aug 21;24(17). pii: E3023. doi: 10.3390/molecules24173023.
  • 2 Honey, Propolis, and Royal Jelly: A Comprehensive Review of Their Biological Actions and Health Benefits. Oxidative Medicine and Cellular Longevity Volume 2017, Article ID 1259510, 21 pages https://doi.org/10.1155/2017/1259510