A área da nutrição é bem popular entre as pessoas, e certamente muitas se arriscam a defini-la depois de já terem passado por uma consulta com um nutricionista para reformular o cardápio e ajustá-lo às suas necessidades médicas ou estéticas. Mas e a nutrologia, você já ouviu falar, sabe o que é? E qual a diferença entre nutrólogo e nutricionista? Como atuam esses profissionais?
Inicialmente, é preciso estabelecer a importância da questão nutricional para a sobrevivência, especialmente de indivíduos com doenças sérias: “Até pouco tempo atrás, não se dava a devida importância à nutrição, apesar de ser parte fundamental do nosso corpo, essencial à nossa saúde. Um paciente desnutrido estará sempre doente, especialmente se tiver câncer ou for paciente cirúrgico… Quando desnutrido, o tecido não cicatriza; você dá pontos, os pontos abrem. Não há recuperação”, afirma Dr. André Lee, cirurgião, médico assistente da nutrologia médica e do transplante de órgãos do aparelho digestivo.
Ou seja, é preciso avaliar as condições e necessidades desse paciente e estruturar sua alimentação sobre elas – e quem desenvolve cardápio é o nutricionista, certo? Neste caso, não exatamente… A principal diferença entre nutrólogo e nutricionista é exatamente o entendimento da doença de base.
Qual é a diferença entre Nutrólogo e nutricionista?
A nutrição consiste de um curso superior que aborda o suporte envolvido com as dietas, por meio de cálculos de avaliação nutricional. Seus profissionais trabalham com a questão médica, mas de acordo com as orientações da equipe médica responsável.
Já o nutrólogo é médico: ele frequenta a faculdade de Medicina por seis anos, e depois segue para mais quatro anos de residência médica; tem como pré-requisito fazer cirurgia geral ou clínica médica. Esse preparo é essencial para fornecer o suporte nutricional de forma adequada aos doentes, especialmente de patologias sérias – eles compreendem a doença de base.
“A área começou a ser mais olhada e valorizada porque se tornou lei haver uma Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) em todos os hospitais – ela deve contar com pelo menos um médico, um enfermeiro, um farmacêutico e um nutricionista”, explica Dr. André.
A rotina dos grandes hospitais atende pacientes de alta complexidade, de urgência, com traumas e doentes que necessitam de avaliações diárias. “A doença primária acaba afetando vários órgãos; para você fazer a nutrição de modo adequado – por via oral ou parenteral – é preciso muito conhecimento médico da doença. Assim, a formação médica é realmente impactante para se fazer esse suporte nutricional dos doentes”, afirma.
É fato que não se pode dar a mesma alimentação para pacientes diferentes; cada patologia exige um suporte específico. Também, não se pode subestimar o quadro e deixar o paciente sem suporte nutricional nenhum; daí a importância da intervenção precoce da equipe.
“Antigamente, a nutrição parenteral era mais genérica; agora, consideramos sexo, idade, peso, enfim, são vários os parâmetros para você chegar ao suporte nutricional adequado. Com isso, consigo fazer uma intervenção mais precoce, obter uma melhora do doente mais rápido, com menos custo e menos infecção hospitalar”, completa Dr. André.
Para ele, o melhor aprendizado que um residente pode ter é lidar com o paciente de fato; hoje, os alunos da área no HC cumprem uma carga igual à de um residente, com mais de 60 horas semanais.
“Se temos 50 pacientes com nutrição parenteral no HC, imagine que é preciso diariamente calcular peso, verificar dieta, checar o acesso venoso, conferir infecções, ver como está o rim, o fígado, enfim, são muitos detalhes. Não posso dar determinado nutriente para um paciente com problemas de fígado, por exemplo; cada doente é uma particularidade, e vamos mexendo na dieta. É uma área muito mais complexa do que se pressupõe”, diz.
Nutrição e Dietoterapia
Dr. André alerta para uma apropriação que existe na área; segundo ele, a graduação em nutrição dura quatro ou cinco anos, dependendo da faculdade, e seu principal foco é a dietoterapia, que busca oferecer um ganho de qualidade nutricional para o indivíduo saudável. A nutrição clínica, que visa dar ao organismo debilitado os nutrientes adequados, demanda um conhecimento profundo das patologias de base. É neste aspecto que reside a principal diferença entre a atuação do nutricionista e do nutrólogo, ou seja, o primeiro “entende de patologias, mas não com a profundidade de um médico, principalmente quando consideramos doentes de UTI”, explica Dr. André.
As instituições não podem, portanto, autorizar que este nutricionista cumpra as obrigações de um nutrólogo, já que o suporte adequado é fundamental e um equívoco pode levar graves consequências ao paciente.
Da mesma forma que o nutrólogo, o nutricionista faz o atendimento clínico individualmente, desenvolvendo uma dieta que atenda às necessidades do paciente. Para formatá-la, ele pode solicitar exames bioquímicos, como de sangue e urina, pesquisar o histórico familiar de doenças e até mesmo o estilo de vida do paciente – hábitos saudáveis ou não que mantenha.
O acompanhamento ao paciente também faz parte da rotina, com prescrição e adequação da dieta em cada fase do tratamento, seguindo os preceitos estabelecidos pelo nutrólogo e a equipe médica, que avaliam as doenças mais profundamente.
“É preciso considerar, também, que o custo de tal dieta é alto, e utilizar a dieta errada significará gastos desnecessários. Essa dieta deve contribuir imediatamente para o tratamento da doença, por isso a importância do médico nutrólogo nesse panorama”, pontua Dr. André, ressaltando a diferença entre nutrólogo e nutricionista.
O fato é que os olhares para a nutrologia médica têm se intensificado nos últimos anos. “Infelizmente, a maioria das escolas não conta em sua grade curricular com a parte de nutrição médica. A primeira residência foi na USP de Ribeirão Preto, e há uns dois anos temos aqui no HC”, comenta Dr. André.
Cursos para Nutrólogo e Nutricionista
O HCX Fmusp, como centro educacional do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, oferece diversos cursos para profissionais formados em Nutrição e médicos especialistas em Nutrologia. São treinamentos de curta e longa duração, com tradição e excelência do maior complexo hospitalar da América Latina.