Fitoterapia e Plantas Medicinais: usos e benefícios

Fitoterapia e Plantas Medicinais

Chá de camomila para acalmar, chá de erva-cidreira para a dor de estômago… Quem nunca recolheu uma plantinha do jardim e ferveu para tentar aliviar sua dor? Mães e avós estão entre as maiores especialistas da área, usando, preferencialmente, bastante açúcar na receita. Será que adianta? A verdade é que cada planta tem um período correto para ser coletada e uma forma específica de ser preparada –a Fitoterapia e Plantas Medicinais cuidam dessa área, e mantém uma luta para fazer essas informações chegarem não apenas a mães e a avós, mas também aos profissionais da Saúde.

Inicialmente, vamos diferenciar: Fitoterapia não é o mesmo que o uso de plantas medicinais apenas. “O medicamento fitoterápico já passou por um processamento, chamamos de ‘ derivado vegetal’, já foi feito um extrato, uma concentração dos fitoquímicos presentes na planta medicinal. Já a Planta medicinal ou droga vegetal é assim chamada quando é usada in natura, fresca ou seca, sem processamentos químicos – pode ser usada a planta inteira, ou apenas sua casca, seu caule, flores… Depende bastante da planta em si”, explica a Profa. Dra. Ana Flávia Marçal Pessoa, coordenadora da Especialização em Fitoterapia e Plantas Medicinais do HCX Fmusp.

Como surgiu a Fitoterapia? 

A Fitoterapia moderna nasceu na Alemanha onde, hoje, mais de 80% dos prontuários médicos envolvem o tratamento com fitoterápicos, inclusive nas emergências, segundo ela.

Muita gente nem imagina, mas o uso de plantas medicinais é também regulamentado no Brasil – até porque é delas que derivam os medicamentos fitoterápicos. “Para uma planta tradicional ser considerada medicinal, um dos critérios é ter um período de uso e comprovação dos efeitos por uma população ou região por, no mínimo, 30 anos; há países que exigem que esse período seja de 50 anos”, completa Dra. Ana Flávia.

Então não adianta retirar a planta do meu jardim para um chá? Até adianta, mas talvez ela não tenha a eficácia que você imagina. “Existe o momento certo de colheita de cada planta, período do ano em que ela tem maior concentração de seus princípios ativos. Também, é preciso considerar a forma de preparo desse chá; a Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) tem uma padronização – há a quantidade certa de água a adicionar, se é preciso usar a flor ou o caule da planta, em qual quantidade. Quando se faz sem esses conhecimentos, consideramos que o uso é recreativo”, afirma a coordenadora. Além disso, é preciso considerar o modo com o chá é feito – se por meio de infusão, decocção (em água fervente) ou maceração (deixar a folha em contato com a água por um tempo).

Como trabalhar com Fitoterapia? 

A educação na área se faz essencial. Até por questões econômicas, os fitoterápicos tendem a ser mais procurados e utilizados. Também, pelo fato de o medicamento natural respeitar o organismo como um todo, diferente de um antibiótico, por exemplo, que para destruir a bactéria da garganta vai também prejudicar a do intestino.

“Nossa intenção é divulgar o uso de forma racional tanto das plantas medicinais quanto dos fitoterápicos para o maior número de profissionais, prescritores ou não. Ainda que ele não possa prescrever (adequar a posologia para cada paciente), ele pode indicar (como o naturopata): o produto fitoterápico industrializado mostra a indicação e a posologia feita pela empresa produtora, e o profissional deve usá-lo de acordo com o fabricante”, explica Dra. Ana Flávia.

Quanto aos prescritores, a expectativa da professora é de que se tornem divulgadores em suas cidades, em seus serviços, para ajudar a desmistificar o fitoterápico ou mesmo a planta medicinal que têm ações terapêuticas comprovadas cientificamente, contraindicações e interações medicamentosas. “Ele pode aprender como associar um medicamento alopático a um fitoterápico, um complementando a ação do outro, o que pode significar um ganho enorme para o paciente”, completa.

Pós-graduação em Fitoterapia 

O curso conduzido pela Dra. Ana Flávia no HCX é uma especialização inédita no País.

Seu módulo básico apresenta os princípios farmacológicos, legislação, como identificar procedência e avaliar a qualidade dos produtos. “Também temos aulas práticas, para o aluno ver como é feita a extração de uma tintura, de um óleo essencial – ele não aprenderá a manipular, já que essa é a atividade exclusiva do farmacêutico, mas terá sua vivência prática na área”, diz.

Dentre as 29 práticas integrativas do SUS, o curso oferta nove delas, relacionadas ao uso dos fitoterápicos, plantas medicinais e demais terapias citadas neste texto – “este é o grande diferencial do curso, preparar o profissional para que ele atue nessas práticas de seu dia a dia”, finaliza Dra. Ana Flávia.

O curso também aborda o uso de cannabis, e tem entre os professores a Dra. Margarete Kishi, que participou do processo de regulamentação do medicamento no Brasil.