Referência no estudo da hipertensão arterial, livro MAPA chega à 6ª edição

Livro MAPA chega à 6ª edição

A Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) é considerada um dos exames mais eficazes no diagnóstico e controle da hipertensão, doença que atinge cerca de 36 milhões de brasileiros, segundo a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). Um método introduzido de forma pioneira no país nos anos 90 e embrião do livro MAPA, de autoria do médico nefrologista Decio Mion Junior e dos cardiologistas Fernando Nobre e Wille Oigman, que agora chega à 6ª edição.

Publicado pela primeira vez no Brasil em 1995, o livro MAPA é tido como uma referência básica para todos os médicos envolvidos com a investigação e diagnóstico dos diversos comportamentos da pressão arterial, como normotensão, hipertensão verdadeira, hipertensão do avental branco e hipertensão mascarada. A mais recente edição do livro – publicado pela editora Atheneu – traz uma grande novidade: a introdução da Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA), popularmente batizada de MAPA 5d, mais acessível e menos invasiva aos pacientes. A inclusão desse método trouxe também novos editores-associados e referências no assunto: os cardiologistas Audes Feitosa, Marco Mota e Weimar Sebba Barroso.

Para falar sobre o lançamento do livro MAPA -Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial – 6ª edição, conversamos com um de seus idealizadores, o médico nefrologista Decio Mion Junior, Diretor Geral do HCX Fmusp.

 A 1ª edição do livro MAPA foi publicada em 1995. Como surgiu a ideia?

Em 1995, esse método de monitorização arterial a distância, chamada Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial, estava no início. Naquela época, fazíamos cursos a respeito disso. Em 1990, eu havia voltado dos Estados Unidos, onde trabalhei com esse método e existia um interesse muito grande em um curso de monitorização de pressão. Lembro que os colegas falaram sobre vários assuntos, monitorização em obesos, em diabéticos, o que era hipertensão do avental branco. E aí, eu disse que estava na hora de fazer um livro: tínhamos gente suficiente e conhecimento. Lembro de ter passado um bilhetinho no curso: ‘olha, nós precisamos fazer um livro’. E, assim, junto com Fernando Nobre e Wille Oigman, fizemos a 1ª edição e foi um sucesso.

E muita coisa mudou nesses 25 anos da 1ª edição do MAPA

Sim. O método, ao longo de todo esse tempo, tornou-se algo que é utilizado no dia a dia da prática clínica. Em todos os laboratórios que você vai, o exame é feito. O conhecimento cresceu muito. Foi graças a essas medidas que umas situações começaram a ser identificadas. Por exemplo, a hipertensão do avental branco. Tudo isso graças a medida fora do consultório.

Estudos mostram que cerca de 90% dos livros publicados no Brasil não saem da 1ª edição. Como é ter um livro da área médica com 6 edições? 

É um privilégio, um orgulho muito grande chegar a essa edição. Houve uma imensa colaboração de todos os editores. O Doutor Fernando Nobre é uma pessoa muito persistente e tem essa capacidade de organização, o que nos ajudou demais. E teve interesse também. Sempre dizíamos: ‘não vamos fazer mais, pois todos já conhecem o método, já está no dia a dia’. Mas a realidade não é assim. Sempre está chegando gente nova. Todo dia tem um residente novo querendo aprender esse método. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe a United States Preventive Services Task Force. Eles recomendam que uma pessoa que tenha pressão acima de 14×9 no consultório, confirme a hipertensão com esse método. Na Inglaterra também. Então, o método é recomendado para confirmar a medida da pressão.

O que os médicos e estudantes de Medicina podem esperar ao adquirir a 6ª edição do livro MAPA?

O livro reflete muito a experiência dos médicos brasileiros nessa área e traz todas as dicas de como você precisa analisar o método e o que ele pode trazer de benefício para o seu paciente. Sabe-se hoje que ao medir a pressão fora do consultório, você fará uma Medicina melhor. Medir somente no consultório, não é o ideal para o seu paciente. Em 95, escrevi um ponto de vista para os Arquivos Brasileiros de Cardiologia, uma revista de Cardiologia, no qual eu falava sobre monitorização de pressão arterial.

Todas as pessoas deviam fazer monitorização de pressão. Naquela altura, o método ainda estava no início. Escrevi na revista: ‘apesar de a MAPA não estar presente no algoritmo diagnóstico de hipertensão de nenhuma sociedade internacional que tenha publicado uma diretriz relacionada ao tema, em um futuro não muito distante, dadas as vantagens da MAPA em relação à medida da pressão de consultório, a indicação para confirmar o diagnóstico de hipertensão poderá tornar-se obrigatória, sob pena de estarmos negando as melhores evidências disponíveis’.

E, no fundo, há uma outra grande vantagem. Nos estudos feitos na Inglaterra, recomenda-se que seja feita a monitorização de pressão residencial ou ambulatorial em todas as pessoas que têm pressão no consultório igual ou acima de 140×90 (mmHg). Porque eles mostraram que se economiza dinheiro. Deixa de tratar o hipertenso do avental branco, não irá gastar com remédio e consulta, ou seja, para o sistema de saúde é muita vantagem.

Nesta edição, uma das novidades é a incorporação do método de  Monitorização Residencial da Pressão Arterial. De que maneira isso pode ajudar na prática clínica?

A vantagem é de poder fazer as medidas regularmente durante períodos mais longos ou antes da consulta, por exemplo. A monitorização ambulatorial você faz 24 horas. Mede a pressão a cada 20 minutos. Então, o sujeito termina o exame e fala: ‘ufa’, porque aquilo fica incomodando. Na monitorização residencial, não. Você não mede durante o sono, mas pode medir de manhã, no almoço, à noite, e seguir construindo as pressões ao longo de uma semana. No fundo, isso faz com que esses métodos sejam mais confiáveis do que aquele da pressão do consultório. Porque eles têm um número de medidas maior. É o que chamamos de regressão à média. Quando ocorre um número de medidas maior, melhor é refletido a pressão daquele indivíduo. Ao dizermos: ‘a pressão é 12×8, 14×9’, isso significa uma média – pois a pressão uma hora é 142, depois 150 e em seguida 120 – isto é, ela vai variando ao longo do dia o tempo todo. De acordo com as fases, a pressão tende a alternar também durante o sono. Na fase Rem, quando você sonha mais, ela sobe muito. Depois abaixa. Então, ela vai oscilando de acordo com as necessidades do organismo.

O livro, ao trazer para o debate a MRPA, aborda de uma certa forma a universalização do método. É possível pensar em um cenário no qual a maioria da população, principalmente no SUS, tenha mais informação e acesso sobre sua pressão arterial?

Com certeza. Inclusive, se você pensar, hoje em dia que temos os agentes de saúde do programa Saúde da Família e têm as Unidades Básicas de Saúde. Se o indivíduo não tem o aparelho, ele pode ir a uma UBS de manhã, na hora do almoço, à tarde, e medir a pressão. Não precisa ter o aparelho. Em algumas cidades nos Estados Unidos, tem os aparelhos no supermercado. Aqui existe um aparelho, que geralmente tem na farmácia, mas é para se medir a pressão em pé e no antebraço. Não é uma pressão adequada, porque você não está em repouso. O ideal é ficar sentado, esperar 2 ou 3 minutos até repousar antes de medir a pressão. E sempre recomendamos que se meça várias vezes até a pressão estabilizar. Nunca recomendo que a pessoa meça duas ou três vezes. Prefiro recomendar que ela meça até estabilizar. Acho que isso é mais interessante. A população pode ter mais acesso.

Curso MAPA e MRPA

O HCX Fmusp lançou recentemente o MAPA e MRPA – MAPA 5d, um curso EAD voltado para os médicos que desejam aprender os métodos mais eficazes no diagnóstico de hipertensão. São 15 horas de conteúdo, atualizado com o que há de mais novo e importante na monitorização da pressão arterial. Além do professor Decio Mion Jr, o curso tem como coordenadores os professores Dr. Luciano Ferreira Drager, Diretor da Unidade de Hipertensão da Disciplina de Nefrologia da FMUSP e Dr. Aparecido Bortolotto, Diretor da Unidade de Hipertensão do Instituto do Coração (InCor HCFMUSP.)

Conheça o curso MAPA e MRPA