Mistérios e descobertas sobre a Covid-19, a grande preocupação do mundo em 2020

coronavírus

Se tem algo certo sobre este novo coronavírus, são as incertezas. Geralmente, os vírus dessa família são destruídos facilmente. Estudos mostraram que o SARS-CoV-2 sobrevive por até 24 horas em papelão e de dois a três dias em aço e plástico – geralmente, eles precisariam de corpos para sobreviver.

Uma partícula de vírus é feita de um conjunto de genes, encapsulado por uma esfera de moléculas lipídicas gordurosas, e como as conchas lipídicas são facilmente separadas pelo sabão, bastam 20 segundos de lavagem das mãos para aniquilá-las. Mas não é isso que está acontecendo agora.

O SARS-CoV-2 é o sétimo da tal família – há quatro mais comuns, responsáveis por quadros brandos de infecção respiratória; outros dois causadores da síndrome SARS e da MERS; e, em 2002, surgiu o SARS-CoV, que se espalhou por 12 países, causando a morte de cerca de 800 pessoas. Seu último relato foi em 2004. Em 7 de janeiro deste ano, o agente causador da nova epidemia foi identificado e denominado COVID-19.

O veículo The Atlantic, publicado nos Estados Unidos desde 1857, fez uma reportagem chamada Por que o coronavírus tem tido tanto sucesso, assinada pelo jornalista de ciências Ed Yong, que entrevistou diversos cientistas. O texto ressalta que o SARS-CoV-2 não é uma gripe, causa uma doença com sintomas diferentes, se espalha e mata mais rapidamente e pertence a uma família de vírus completamente diferente.

A estrutura do vírus, uma bola espetada, seria um dos motivos de seu sucesso – esses picos reconhecem e aderem a uma proteína chamada ACE2, encontrada na superfície de nossas células, o primeiro passo para uma infecção. “Os contornos exatos dos picos do SARS-CoV-2 permitem que ele se apegue muito mais fortemente ao ACE2 do que o SARS clássico, e é provável que isso seja realmente crucial para a transmissão de pessoa para pessoa”, diz Angela Rasmussen, da Universidade de Columbia, no texto.

Outro fator importante é que os picos de coronavírus consistem em duas metades conectadas, e o pico é ativado quando essas metades são separadas; é aí que o vírus pode entrar na célula hospedeira. No SARS clássico, essa separação ocorre com alguma dificuldade, mas no SARS-CoV-2, a ponte que liga as duas metades pode ser facilmente cortada por uma enzima chamada furina, produzida pelas células humanas e encontrada em muitos tecidos. O cientista Kristian Andersen, do Instituto Scripps Research Translational, afirma acreditar que esse “isso é importante para algumas das coisas realmente incomuns que vemos neste vírus”.

Sabe-se que a maioria dos vírus respiratórios tende a infectar as vias aéreas superiores ou inferiores – uma infecção superior se espalha facilmente, mas tende a ser mais leve, enquanto uma inferior é mais difícil de transmitir, porém é mais grave. Notou-se que o SARS-CoV-2 parece infectar as vias aéreas superiores e inferiores, talvez porque possa explorar a onipresente furina.

Isso também explicaria por que o vírus pode se espalhar entre pessoas, antes mesmo de causar sintomas na primeira, dificultando o controle: é possível que ele se transmita enquanto ainda está confinado às vias aéreas superiores. O texto ressalta, porém, que tudo isso é plausível, mas totalmente hipotético; afinal, o vírus foi descoberto em janeiro e a maior parte de sua biologia ainda é um mistério.

Coronavírus no organismo

Apesar das incertezas, o texto afirma que os pesquisadores já conseguem, no entanto, oferecer um relato preliminar do que o novo coronavírus faz com as pessoas infectadas:

  • Primeiramente, ataca as células portadoras de ACE2 que revestem as vias aéreas;
  • As células moribundas se soltam, enchendo as vias aéreas com lixo e transportando o vírus para dentro do corpo, em direção aos pulmões;
  • À medida que a infecção progride, os pulmões ficam entupidos com células mortas e líquidos, dificultando a respiração;
  • O sistema imunológico revida e ataca o vírus; é o que causa inflamação e febre. Mas, em casos extremos, o sistema imunológico enlouquece, causando mais danos do que o vírus real.

 

Por que uns ficam mais doentes do que outros?

Já se sabe que algumas pessoas com COVID-19 ficam muito doentes, enquanto outras têm sintomas leves ou inexistentes.

Como tem sido amplamente divulgado, a idade é um fator, e o The Atlantic frisa isso. Porque seu sistema imunológico não pode montar uma defesa inicial eficaz, as pessoas idosas correm o risco de ter infecções mais graves – exatamente pelo motivo oposto, as crianças são as menos afetadas porque seu sistema imunológico tem menor probabilidade de progredir para uma tempestade de citocinas.

Porém, há outros fatores enumerados pela reportagem: “os genes de uma pessoa, os caprichos de seu sistema imunológico, a quantidade de vírus a que estão expostos, os outros micróbios em seus corpos – também podem desempenhar um papel. É um mistério o motivo pelo qual algumas pessoas têm doenças leves, mesmo dentro da mesma faixa etária”, diz Akiko Iwasaki, da Faculdade de Medicina de Yale.

Sobre temperatura e condições climáticas, o texto lembra que, os coronavírus, como a gripe, tendem a ser vírus de inverno e que, geralmente, no calor e na umidade do verão, os vírus respiratórios lutam para se firmar.

Mas sempre tem um ‘porém’ quando se fala de COVID-19: isso não parece importar para sua pandemia. Sua propagação tem ocorrido pelo mundo fora, sob qualquer variação sazonal. O mistério continua…