Saúde mental da mulher: uma questão interdisciplinar

saúde mental da mulher

A saúde mental da mulher é rasamente discutida e analisada – também nos meios acadêmicos. Ao ter oscilações de humor ou comportamento atreladas a hormônios ou períodos como gestação ou puerpério, elas tendem a ser subdiagnosticadas, e a viverem com patologias que poderiam ser tratadas. Perdem, portanto, qualidade de vida.

Esta é uma constatação do Prof. Dr. Joel Rennó Jr., diretor do Programa de Saúde Mental da Mulher do Instituto de Psiquiatria (IPq) do HC. “Trata-se de uma área que ainda tem uma psicofobia, um preconceito, e muitas mulheres acabam sofrendo caladas”, explica.

“No programa que coordeno de saúde mental da mulher, vemos que poucos psiquiatras estão capacitados para o tema. Também dou aula para profissionais correlatos, como obstetras e ginecologistas, público que realmente precisa desse tipo de informação, pois lida ainda mais com o público feminino e, por vezes, nos momentos mais críticos ou delicados”, completa Prof. Joel, que foi o responsável pelo conteúdo do Proago – Programa de Atualização em Ginecologia e Obstetrícia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

O fato é que, mesmo com todo o desenvolvimento da Medicina, poucos profissionais estão preparados para lidar com a saúde mental da mulher em toda a sua trajetória – especialmente em momentos como um pré-natal, quando uma depressão pode ser diagnosticada, por exemplo.

Gestação e pós-parto, e a obrigação de ser feliz

A gravidez é um período em que há a ditadura da felicidade – espera-se que tudo seja lindo, mágico, maravilhoso. Muito se fala sobre o “instinto materno”, o que joga um peso grande em algumas mulheres. Há as que se questionam: o que faço agora? Sou competente? Eu mereço? Por que eu não estou sentindo aquele amor incondicional?

Dr. Joel explica que esses questionamentos no início do puerpério são muito comuns e, se a mulher não tiver uma família que dê um bom suporte, pode ser algo que a afete bastante.

“Os sintomas na gestação, na maioria das vezes, são cansaço, irritação, sonolência, mas são associados à gravidez ou aos hormônios. Os profissionais da Saúde rastreiam hoje hipertensão arterial, diabetes, anemia, hipotireoidismo, e a depressão precisa ser rastreada como qualquer uma dessas doenças, porque as consequências podem ser desastrosas também para a vida do bebê. Ao não diagnosticarmos, estamos prejudicando o vínculo entre mãe e filho, de maneira que essa criança, mais tarde, terá dificuldades nos seus relacionamentos, oriundos dessa fragilidade que se estabeleceu nos seus primórdios, na amamentação”, afirma o Professor.

Outro cenário preocupante, também, é o de pessoas intrusivas, que ao invés de ajudar, acabam atrapalhando. “Certos conselhos, para aquela mamãe que já está com início de depressão pós-parto, tem um peso de cobrança que gera culpa nela. Esse é um período muito especial na vida da mulher, e cada vez mais é preciso prevenir traumas nesse momento – que, sem dúvida alguma é mágico, e precisa ser sentido assim por ela. Mas, algumas mulheres precisam ser tratadas adequadamente pelo profissional, de forma terapêutica e, quando preciso, medicamentosa”, completa.

O tratamento antidepressivo não é impossível, mas há drogas que são as mais seguras e as que são contraindicadas para a mulher nesse momento; cabe ao profissional analisar os riscos e benefícios, e explicar para a paciente, em uma decisão compartilhada com ela e a família.

Jornada de Saúde Mental da Mulher

 Dr. Joel é o coordenador da Jornada de Saúde Mental da Mulher, um curso de atualização sobre os principais conceitos em saúde mental da gestante e da puérpera que aborda questões relacionadas à psicopatologia, psicofarmacologia e outros temas relacionados. Ele é direcionado a médicos psiquiatras e obstetras, médicos residentes, psicólogos, alunos de graduação e demais profissionais de Saúde com interesse na área.

O evento está previsto para ser realizado no Ipq em 31 de outubro, e tem inscrições abertas até 23 de outubro. Aos profissionais interessados, recomenda-se manter contato com o Centro de Estudos do Instituto de Psiquiatria (CEIP).